A escritora Camila Panizzi Luz foi excluída do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) após uma fala considerada racista durante uma palestra na quarta-feira, 30 de abril. O incidente ocorreu na mesa "Raízes e Asas: Literatura e Artes Sem Fronteiras", com a participação de sua mãe, Ivana Panizzi. A organização do evento, que celebra 20 anos em 2025, também retirou os livros da autora do estande de vendas e cancelou suas demais atividades.
O episódio aconteceu quando Camila convidou o escritor Wesley Barbosa, do Coletivo Neomarginais, para subir ao palco e apresentar seu livro Viela Ensanguentada. Durante a fala de Wesley, ela o interrompeu, dizendo: "Como que faz para ser neomarginal? Eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo! Camila Luz, neomarginal. Nunca fui presa". A declaração, que associou literatura marginal à criminalidade, gerou indignação imediata. Wesley, que nunca teve passagem pela polícia, respondeu nas redes: "Também nunca fui preso!", destacando que a literatura marginal é um movimento cultural iniciado nos anos 1970, voltado para vozes periféricas.
A repercussão nas redes sociais foi intensa, com críticas à fala de Camila e acusações de racismo. O Flipoços emitiu uma nota oficial classificando o ocorrido como "lamentável e de cunho racista", anunciando o rompimento com a autora e a revisão de seus processos de curadoria para evitar novos incidentes. "Repudiamos veementemente qualquer ato de racismo ou discriminação. Nosso evento valoriza a diversidade e a inclusão", afirmou a organização.
Pronunciamento de Wesley Barbosa
Wesley Barbosa usou as redes sociais para agradecer o apoio e reforçar a importância da resistência cultural. "A poesia é a vontade de persistir, de construir, de atravessar a ponte. Não nos calamos perante uma fala racista que exclui. Os livros são como marretas quebrando as paredes da ignorância", escreveu. Ele destacou a força da literatura marginal como ferramenta de transformação e sonhos.
Resposta de Camila
Camila Panizzi Luz restringiu o acesso a seu perfil no Instagram e ao de seu podcast, Pane no Sistema, após o ocorrido. Em nota enviada à EPTV, sua produção reconheceu uma "fala infeliz" que "pode ter sido mal interpretada", lamentando se alguém se sentiu ofendido. A nota também afirmou que Camila tem "consciência de seus privilégios" e costuma ceder espaço a outras vozes, mas não abordou diretamente as acusações de racismo.
Contexto da Autora e do Evento
Camila, de 33 anos, é filha do diplomata Francisco Carlos Soares Luz, embaixador do Brasil na Bolívia, e vive em Portugal. Autora de Liderança Feminina Sem Fronteiras e Tempestade da Mente, ela participou do Flipoços para lançar seus livros. O festival, um dos principais eventos literários do Brasil, comprometeu-se a abrir uma convocatória para fortalecer a curadoria, garantindo maior diversidade e respeito nas próximas edições.
Fonte: Rádio Apucarana