Quando os primeiros sinais de Alzheimer começaram a aparecer em Maria Alice, em 2018, a filha, Rai Lima, decidiu buscar formas de compreender e lidar melhor com a doença da mãe. Economista sergipana e residente em Curitiba (PR), ela se especializou em gerontologia e, após diversas pesquisas, encontrou na terapia com bonecas uma solução acolhedora e eficaz para o quadro de demência da mãe, que vive em Aracaju (SE).
Maria Alice, hoje com 84 anos, interage pouco, mas tem uma forte conexão com a boneca reborn que ganhou da filha. "Quando está com a boneca no colo, segura forte, não quer largar. É como se estivesse abraçando a mim ou aos netos", relata Rai.
A boneca reborn — batizada também de Alice — foi encomendada com características que lembram Maria Alice quando criança, como olhos claros e traços delicados. A semelhança facilita a conexão emocional, proporcionando conforto e resgatando memórias afetivas.
De acordo com o geriatra Luiz Antônio Sá, a terapia com bonecas é uma técnica não farmacológica que tem mostrado resultados promissores em pacientes apáticos, agressivos ou agitados. “Em um estudo inglês, o uso de antipsicóticos caiu de 92% para 28% com a introdução das bonecas”, aponta.
Contudo, o médico alerta que a terapia deve ser aplicada com cautela e somente após avaliação do histórico emocional do paciente. “Se a pessoa nunca gostou de crianças, pode não haver conexão”, explica.
Rai reforça que a técnica deve ser usada com respeito, sem infantilizar os idosos: “Não é brincar de boneca. É oferecer suporte emocional, dignidade e qualidade de vida”.
Mesmo morando longe, Rai acompanha de perto os cuidados com a mãe, orientando cuidadoras e defendendo os cuidados paliativos como forma de garantir conforto e humanidade em todas as fases da vida.