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Brasileiros Passam 5 Horas por Dia no Celular, mas Jovens Buscam Atividades Offline para Equilíbrio
Estudo revela hiperconexão no Brasil, enquanto práticas como pintura e crochê ganham força para reduzir tempo de tela
Por Matheus Daczuk
Publicado em 25/06/2025 09:57
Notícia

Uma pesquisa da plataforma Data.AI revelou que os brasileiros passam, em média, cinco horas diárias no celular, colocando o país na quinta posição global em tempo de uso de smartphones. O aumento em relação ao ano anterior evidencia a hiperconexão, um estado de conexão contínua a dispositivos digitais descrito pela psicóloga Izabelle Santos, do Hospital Anchieta Taguatinga. “Com o tempo, essa dinâmica altera a maneira como vivemos e nos relacionamos, tornando o simples ato de estar ‘offline’ algo incômodo ou até angustiante”, explica. Contudo, muitos jovens brasilienses estão buscando atividades manuais, como pintura, cerâmica e crochê, para reduzir o tempo de tela e promover bem-estar.

A estudante de medicina Isadora Presot, 26, encontrou nas artes plásticas uma forma de aliviar a ansiedade e se reconectar consigo mesma. “O celular oferece muitos estímulos que geram ansiedade. A gente se compara o tempo todo com os outros, acompanhando a vida alheia, e, quando percebe, não viveu a sua”, relata. Desde que intensificou a prática da pintura, Isadora reduziu o uso do celular e ganhou mais foco em suas tarefas diárias.

Da mesma forma, Larissa de Pádua, 21, estudante, adotou a confecção de cerâmicas frias para combater a dependência digital. “Eu não conseguia me concentrar sem olhar o celular. Uma tarefa de uma hora se estendia por três. Agora, com as cerâmicas, mantenho o foco e não fico parando para conferir notificações”, comemora. Antes, ela chegava a passar oito horas diárias conectada aos fins de semana.

O arquivista Bruno Amorim, 29, também encontrou no crochê, aprendido com a tia, uma maneira de desacelerar. “Fico horas sem olhar o celular, esquecendo as notificações. Antes, passava quatro horas por dia nas redes sociais; agora, esse tempo caiu para cerca de duas horas”, conta. Já Ana Paula Pimenta, 21, estudante de nutrição, aderiu aos livros de colorir da Bobbie Goods, que viraram febre entre jovens. “A pintura é um momento só meu. Relaxo de verdade, sem me preocupar em agradar ninguém”, afirma.

O neurologista Marcelo Masruha explica que o uso excessivo de telas causa hiperestimulação cerebral, prejudicando concentração, memória e tolerância ao tédio, além de estar associado a ansiedade, depressão e, em casos graves, pensamentos suicidas em adolescentes. “Atividades offline são essenciais para reequilibrar os sistemas cognitivos e emocionais”, reforça. Para a psicóloga Izabelle Santos, o equilíbrio está em usar a tecnologia como aliada, sem deixar que ela substitua experiências significativas. A busca por hobbies manuais, como destaca o arteterapeuta Jean Fernando, tem crescido entre aqueles que sentem dificuldade em se desconectar, oferecendo um caminho para retomar o controle do tempo e da saúde mental.

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