Em meio às incertezas sobre um cessar-fogo entre Israel e Irã, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou a pressão sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para que seus 32 estados-membros cumpram a meta de 5% do PIB em gastos com defesa, conforme acordado para 2035. Durante viagem a Haia, na Holanda, para o summit da Otan, Trump criticou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que resistiu à proposta, argumentando que ultrapassar os 2,1% do PIB comprometeria gastos sociais e exigiria aumento de impostos. A meta de 5% inclui 3,5% para gastos militares diretos e 1,5% para áreas como cibersegurança e proteção de fronteiras.
Sánchez, em carta ao secretário-geral da Otan, Mark Rutte, destacou que o compromisso de 5% seria “incompatível com o estado de bem-estar social” da Espanha e pediu uma “fórmula mais flexível”. A Espanha, que gastou apenas 1,28% do PIB em defesa em 2024, foi o menor contribuinte da aliança, segundo dados da Otan. Apesar da resistência inicial, que ameaçou o consenso necessário para o acordo, a Espanha aceitou a meta após garantias de flexibilidade, permitindo que cada país defina seu próprio cronograma até 2035.
Trump, que em janeiro de 2025 reforçou a necessidade de todos os membros atingirem os 5%, ameaçou não cumprir o Artigo 5 do Tratado de Washington – que prevê defesa mútua em caso de ataque – para países que não contribuam adequadamente, chamando-os de “maus pagadores”. Ele destacou que os EUA arcaram com 62% dos gastos totais de defesa da Otan no último ano. Rutte, em mensagem confirmada à AFP, elogiou Trump pela liderança na pressão por mais investimentos, afirmando que a Otan já adicionou US$ 1 trilhão em gastos com defesa na última década.
O conflito Israel-Irã, que inclui ataques iranianos após um prazo de cessar-fogo não confirmado por Teerã, adiciona incerteza ao cenário global. O chanceler alemão, Friedrich Merz, destacou que o aumento dos gastos visa conter ameaças como a Rússia, que “ameaça ativamente a segurança” da Europa, e não apenas agradar os EUA. Paralelamente, líderes europeus, incluindo Ursula von der Leyen e António Costa, reforçaram o apoio à Ucrânia, com um 18º pacote de sanções contra a Rússia em andamento e 800 bilhões de euros previstos para investimentos em defesa.
Fernanda Medeiros, doutoranda em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, explica que a pressão de Trump reflete uma antiga demanda americana por maior equilíbrio nos gastos da Otan. Ela observa que, embora o aumento dos investimentos possa fortalecer a segurança coletiva, a Otan tem influência limitada em conflitos como Gaza, mas é mais relevante contra a Rússia. Organizações como a União Europeia e a Liga Árabe podem se pronunciar caso o conflito Israel-Irã escale. A reunião de Trump com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, hoje (25/6), também é aguardada com expectativa.