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CRIADO PARA PÚBLICO DE BAIXÍSSIMA RENDA, FIES SOCIAL 'COBRA' MAIS DE R$ 2 MIL POR MÊS EM CURSOS DE MEDICINA: 'DE SOCIAL, NÃO TEM NADA'
Novidades
Publicado em 06/02/2025

Programa voltado a estudantes que ganham até 0,5 salário mínimo (R$ 759) tem como chamariz financiar 100% de cada mensalidade. Mas existe um 'teto': se o curso de medicina custar mais de R$ 10 mil (algo bem comum no mercado), a diferença deverá ser paga pelo aluno. FNDE diz que estuda revisão do valor.

"Fies Social? De 'social', ele não tem nada", diz Eduarda Cardoso, de 22 anos, estudante de medicina e beneficiária do programa, criado em 2024 pelo Ministério da Educação (MEC). "Nossa renda é de R$ 700 por pessoa aqui em casa, mas preciso pagar R$ 2.300 por mês na faculdade, mesmo com Fies. É inviável." 

  • O que é Fies Social? Essa modalidade de financiamento do ensino superior é direcionada especificamente a pessoas de baixíssima renda familiar, que ganham menos de meio salário mínimo per capita, ou seja, até R$ 759 (no Fies "normal", o limite é de 3 salários mínimos). Funciona como um "empréstimo': em tese, o governo cobre 100% dos encargos educacionais (mensalidades e taxas) ao longo da graduação, desde que o aluno pague essa dívida depois de se formar, quando já tiver um emprego.

O problema, segundo Eduarda e outros jovens ouvidos pelo g1, é que existe um "teto" muito baixo no financiamento, considerando os preços atuais das faculdades. No caso de medicina, o patamar máximo "emprestado" pelo programa é de R$ 10 mil por mês — sendo que boa parte das instituições cobra mais de R$ 12 mil. Tudo o que extrapola o limite deve ser pago pelo aluno mensalmente, na chamada "coparticipação". 

➡️Um exemplo real: Ana Silva, de 24 anos, é uma das que 2,3 mil pessoas que se matricularam em medicina pelo Fies Social. Ela foi aprovada no segundo semestre de 2024, em uma instituição de ensino de Salvador.

  • Como o curso é integral, ela precisa contar somente com a renda do marido, inferior a R$ 800.
  • A mensalidade, quando Ana ingressou em medicina, era de R$ 12.553,60. Como só R$ 10 mil são financiados, ela pagou mensalmente R$ 2.553,60, de julho a dezembro do ano passado, usando todas as economias do casal.
  • Em 2025, a faculdade reajustou as mensalidades para R$ 14.037. Com isso, mesmo com uma renda de R$ 800, ela teria de pagar R$ 4.037 de coparticipação a cada mês.

"Se eu soubesse que [o valor] aumentaria tão absurdamente, nem teria assinado o contrato. Não tem condição de eu continuar estudando neste ano. Já solicitei o trancamento da vaga e a suspensão do contrato do Fies", conta.

"Como podem chamar esse programa de 'social', se é para pessoas que, em situação de vulnerabilidade, vão assumir uma dívida e ainda pagar um valor alto todo mês?"

O que diz o governo? Procurado pelo g1, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é ligado ao MEC, declarou que o teto é necessário para garantir a sustentabilidade do programa, "evitando o superendividamento dos estudantes".

Disse também que o Comitê Gestor do Fies (CG-Fies) está analisando "uma possível revisão" desse limite de R$ 10 mil, com o objetivo de "alinhar o financiamento às necessidades dos estudantes". "A expectativa é avaliar a proposta ainda no primeiro bimestre", disse o órgão.

Abaixo, nesta reportagem, leia mais sobre:

  • a dificuldade enfrentada por alunos que mudam de cidade para estudar;
  • os obstáculos de mães de baixa renda para se manter na universidade, com coparticipações tão altas;
  • a diferença do Fies Social para o Fies "normal" (e os problemas do "teto" em ambos os casos);
  • a possibilidade de instituições de ensino concederem descontos especiais;
  • as alternativas para resolver as distorções do Fies.

'Meu sonho ia virar um pesadelo'

 

 

Diferentemente do que acontece com alunos de baixa renda no Prouni (que concede bolsas de estudo em faculdades privadas) e no Sisu (que seleciona para instituições públicas), o beneficiário do Fies não recebe nenhum benefício de assistência estudantil, como auxílio-moradia.

Se a pessoa precisar mudar de cidade para fazer a graduação, por exemplo, ela terá de arcar não só com a coparticipação alta em medicina, como também com todos os custos de alimentação, transporte e habitação.

✈️Essa conta "que não fecha" foi determinante para que Lorena Alves, de 21 anos, desistisse de assinar o contrato do Fies Social. Ela mora em Petrolina (PE) e havia sido aprovada em uma instituição de ensino em Lauro de Freitas (BA).

"Sou de baixa renda. A coparticipação de medicina já ficaria impossível, ainda mais pagando estadia. Meu sonho viraria um pesadelo", diz.

 

"Estou abalada, porque já tinha até entrado no grupo de Whatsapp da turma. Mas não tem jeito: fui pesquisar e descobri que o Fies Social não é social. Não é para mim. Minha avó pode morrer, minha mãe pode morrer, não sei o dia de amanhã. Se eu precisasse largar o curso no meio, não teria quem me ajudasse a pagar uma dívida de meio milhão de reais." 

 

Rádio Apucarana / Jornal De Apucarana

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